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17 de junho de 2025

Auto do bumba meu boi promove resistência e identidade cultural entre jovens na região da Maioba

Na comunidade da Maioba, em Paço do Lumiar, a tradicional manifestação cultural do bumba meu boi ganha novos significados, nas mãos de estudantes e educadores. É o que observou a professora e mestra em História Social pela Universidade Federal do Maranhão (Ufma), Marivânia Melo Moura, na pesquisa “Auto do bumba meu boi como resistência na comunidade da Maioba”. A ideia era transformar e ressignificar o olhar dos jovens, sobre suas próprias origens culturais. Um objetivo que foi alcançado, aponta a pesquisadora.

A investigação, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema), surgiu de uma inquietação pedagógica, segundo conta a pesquisadora. Durante as aulas de História do Brasil Colonial, ela percebeu que muitos alunos da escola Ribeiro do Amaral – que fica ao lado do barracão do Boi da Maioba e onde o estudo foi aplicado –  demonstravam distanciamento pelas contribuições culturais de negros e indígenas.

“Nas aulas, notei que boa parte dos jovens daquela comunidade tinha certo desprezo pela herança cultural de negros e indígena. Isso me preocupou profundamente”, relata a professora Marivânia Moura. A partir de uma visita cultural ao Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, no Centro Histórico de São Luís, ao passarem no trajeto, alguns alunos expressaram orgulho ao gritar: Aqui é a Maioba! O grito espontâneo acendeu um alerta na professora, de que ali havia um sentimento de pertencimento, um vínculo com a cultura local que poderia ser explorado pedagogicamente.

“Eu observei que ali tinha um orgulho, uma identidade cultural. E pensei que, se todos tivessem uma aproximação com a brincadeira do bumba meu boi, talvez houvesse menos rejeição, menos preconceito com as manifestações culturais de origem indígena e africana”, conta.

A pesquisa se aprofundou na simbologia do auto do bumba meu boi, identificando-o como uma expressão de resistência das populações historicamente subalternizadas pelo sistema colonial, escravocrata e patriarcal. Ao revisitar o enredo do boi – com seus personagens, música, dança e indumentárias -, os estudantes mergulharam em uma narrativa rica de conflito cultural.

“A história da sociedade maranhense existe muito antes da chegada dos europeus à Ilha de Upaon-Açu. Os povos indígenas têm uma história a ser contada, e os africanos se rebelaram contra a condição de escravizados, de várias formas. Neste contexto, o auto do bumba meu boi se apresenta como uma dessas muitas formas de resistência”, avalia Marivânia Moura.

Entre os principais objetivos alcançados pela pesquisa, destaca-se a transformação do ambiente escolar. A abertura do currículo para narrativas historicamente marginalizadas permitiu o surgimento de uma identidade cultural mais plural, inclusiva e democrática.

“Quando damos visibilidade ao protagonismo das culturas indígenas e africanas, mostramos que há outras formas de contar a história. A supremacia da história europeia nos currículos escolares apenas reforça preconceitos sociais, raciais e de gênero”, observa Marivânia Moura.

Conhecimento, pertencimento e valorização

Durante a concepção do estudo, foram realizadas oficinas de cultura popular, dança dos caboclos de pena, bordado das indumentárias e de fotografia, tudo com apoio da Fapema. O recurso possibilitou ainda que os alunos visitassem espaços culturais, como o Museu Cafua das Mercês, ampliando o contato com a história afro-indígena da região.

A pesquisa teve como referências matérias, relatos e obras, entre estas, ‘Nome aos Bois-Tragédia e Comédia no Bumba-Meu-Boi do Maranhão’, livro fruto da pós-graduação da jornalista Andrea Oliveira; o trabalho ‘Mídia e Experiência na Cultura Popular: O Caso do Bumba-Meu-Boi’, da professora de Comunicação da Ufma, Ester Marques; e ‘O Bumba-Meu-Boi como Conheci’, da folclorista Zelinda Lima.

O estudo lançou luz para o valor do bumba meu boi como expressão cultural e mostrou que a educação pode ser um espaço real de emancipação e pertencimento. “Foi emocionante ver os alunos descobrindo a própria história, reconhecendo suas raízes. Eles aprenderam sobre o passado e puderam perceber o quanto essas culturas continuam vivas, afirmando sua potência de vida e de luta. Ou seja, aquele grito de orgulho, agora ecoa ainda mais forte entre os muros da escola”, enfatiza a pesquisadora.

FONTE – GOVERNO DO MA